quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Comentário à cantiga de Escárnio "Ai dona fea"

Comentário à Cantiga de Escárnio

Ai, dona fea, fostes-vos queixar                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   


Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv'en [o] meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
en que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus me perdon,
pois avedes [a] tan gran coraçon
que vos eu loe, en esta razon
vos quero já loar toda via;
e vedes qual será a loaçon:
dona fea, velha e sandia!

Dona fea, nunca vos eu loei
en meu trobar, pero muito trobei;
mais ora já un bon cantar farei,
en que vos loarei toda via;
e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia!

Joan Garcia de Guilhade, CV 1097, CBN 1486

             As cantigas de escárnio e maldizer fazem parte da lírica trovadoresca. Nestas, o trovador tece a sua crítica a algo ou alguém, identificando o alvo da sua crítica, nas cantigas de maldizer ou encobrindo o objecto criticado, nas de escárnio. A sátira existente nestas cantigas é sempre mordaz e pode ser individual ou social.
     

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Comentário à cantiga de amor "Proençaes soem mui ben trobar"

Comentário à Cantiga de Amor

Proençaes soen mui bem trobar


Proençaes soen mui ben trobar
e dizen eles que é con amor;
mais os que troban no tempo da frol
e non en outro, sei eu ben que non
an tan gran coita no seu coraçon
qual m'eu por mha senhor vejo levar.

Pero que troban e saben loar
sas senhores o mais e o melhor
que eles poden, soõ sabedor
que os que troban quand'a frol sazon
á, e non ante, se Deus mi perdon,
non an tal coita qual eu ei sen par.

Ca os que troban e que s'alegrar
van eno tempo que ten a color
a frol consigu', e, tanto que se for
aquel tempo, logu'en trobar razon
non an, non viven [en] qual perdiçon
oj'eu vivo, que pois m'á-de matar.

El-Rei D. Dinis, CV 127, CBN 489


Itens para análise:
. a relação entre o amor e o «tempo da frol»;
. a oposição «proençaes»/»Eu»;
. o tema da cantiga;
. o aspecto formal.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Ai flores, ai flores do verde pino - análise

"Ai flores do verde pino" - análise


Valor documental da cantiga "Como vivo coitada, madre" - alunos

     Esta cantiga de amigo espelha o contexto sociopolítico e cultural da época medieval devido a três aspetos presentes na sociedade de então.
     O primeiro aspeto a referir é a existência de guerras e a falta de preparação dos homens para as mesmas, o que leva ao desespero e sofrimento das mulheres pela incerteza do regresso dos seus amados, fazendo com que elas recorram à religião, orando e suplicando para que eles regressem sãos e salvos.
     Posto isto, a lírica trovadoresca apresenta-se como um relato fiel da sociedade medieval. 10º1A  (90 palavras)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Lírica Trovadoresca - contextualização

Lírica Trovadoresca

Verdades e mitos de uma época que faz sonhar

Feiras inspiradas nos mercados medievais, ou tentando reconstituir a vida quotidiana na Idade Média, proliferam todos os verões de norte a sul do país. Está na moda uma espécie de Idade Média de faz de conta. Depois do sucesso global de O Senhor dos Anéis, fantasias inspiradas num ambiente medieval eivado de magia enchem páginas de livros com um público fiel. E as histórias de fadas, príncipes encantados e anões de gorros pontiagudos pertencem à infância de todos nós. [...]
Porém, delírios à parte, a verdadeira Idade Média contém em si mesma todos os ingredientes da evasão. Mesmo que nos compenetremos de que, ao contrário do que os sonhos sugerem, viver naqueles tempos não devia ser muito agradável...
O período que designamos por Idade Média estendeu-se por mil anos, do século V ao século XV, e foi assim batizado pelos humanistas do Renascimento por ocupar o “grande vazio” situado entre a saudosa Antiguidade greco-romana e os tempos modernos. É, pois, um período demasiado longo para poder obedecer a um único padrão. [...]
Quase sempre desenvolvidas à volta do castelo do senhor, as cidades da Idade Média [...] são exatamente o cenário que as feiras medievais de hoje pretendem reproduzir. Vielas tortuosas, vendas de rua, animação, colorido – tudo isto associamos à Idade Média tal como a idealizamos. Normalmente falta, porém, o elemento realista: as casas escuras e desconfortáveis, os maus cheiros, a promiscuidade extrema, a total falta de higiene com ausência de casas de banho e esgotos, a miséria física e moral, a reduzidíssima esperança de vida (aos 40 anos, quando lá se chegava, era-se um velho), a tremenda injustiça social e a dureza do quotidiano como um todo
tornam esta época bastante sombria.
A arbitrariedade e a crueza da recolha dos impostos é um aspeto que não deve ser esquecido.

Projeto de Leitura - pequenas sínteses